Em comunicado, intitulado “Concessão de Benefício Adicional no Desligamento”, o Bradesco informou que trabalhadores que forem comunicados da sua demissão sem justa causa, no período entre 21 de setembro e 30 de novembro, por iniciativa do Bradesco e empresas ligadas, terão os planos de saúde e odontológico mantidos por seis meses além do que prevê a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria. No comunicado, o banco cita o “compromisso” do Bradesco em “apoiar e adotar medidas de enfrentamento à pandemia” e a “adoção do princípio de valorização de pessoas”. Entretanto, o que o banco confirma de forma clara é a quebra de um compromisso assumido publicamente, o de não demitir enquanto durar a pandemia.
Nesta terça-feira 29, dia seguinte da publicação do comunicado pelo Bradesco, foi ultrapassada a barreira de um milhão de mortos pela Covid-19 no mundo. O Brasil, um dos países mais atingidos, registrou 385 mortes pela doença nas últimas 24 horas, chegando ao total de 142.161 óbitos desde o começo da pandemia.
“Falar em apoiar medidas de combate à pandemia e em valorização de pessoas, quando confirma que vai romper o compromisso de não demissão durante a pandemia, assumido publicamente, que serviu para fazer marketing para a instituição, é desrespeitoso. O comunicado anuncia o “benefício” de manutenção dos planos de saúde e odontológico por seis meses a mais do que o banco é obrigado pela nossa convenção coletiva como uma boa notícia. Porém, o que o banco chama de benefício é o mesmo que colocar um band-aid em uma fratura exposta. Uma fratura provocada pelo próprio Bradesco, a demissão de trabalhadores em meio à uma pandemia”, enfatiza o vice-presidente regional do Sindicato, Hilário Ruiz, bancário do Bradesco.
“A pandemia não acabou. Estes trabalhadores demitidos pelo Bradesco, pais e mães de família, não encontrarão recolocação no mercado neste momento, uma vez que os demais bancos não estão contratando. Em um momento dificílimo para o país, de crise sanitária e econômica, ao não honrar o compromisso que assumiu o Bradesco irá colaborar para elevar a já altíssima taxa de desemprego no país. Isso não é ter responsabilidade social, algo que o banco deveria fazer enquanto concessão pública. Isso é uma desumanidade”, acrescenta.
Não existe razão para demitir
Mesmo em meio à crise econômica, o Bradesco segue lucrando alto. No primeiro semestre de 2020, o banco faturou R$ 7,626 bilhões, crescimento de 3,2% na comparação com o trimestre anterior. Em 12 meses, foi registrada redução de 40% no lucro, mas isso foi devido ao ao reforço da chamada Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), que é a despesa feita pelos bancos para cobrir possíveis calotes, que cresceu R$ 3,8 bilhões.
A carteira de crédito expandida do Bradesco apresentou alta de 14,9% em doze meses e 0,9% no trimestre, atingindo R$ 661,1 bilhões. As operações com pessoas físicas (PF) cresceram 12,3% em doze meses, chegando a R$ 236,0 bilhões. Os destaques foram o crédito pessoal com elevação de 22,1%, financiamento imobiliário alta de 18,8%, o crédito rural em alta de 18,0% e o crédito consignado elevação de 14,2%. Já as operações com pessoas jurídicas (PJ) alcançaram R$ 425,1 bilhões, com crescimento de 16,4% em doze meses. O segmento de grandes empresas cresceu 18,2%, enquanto a carteira de Micro, Pequenas e Médias Empresas, cresceu 11,7%.
De acordo com reportagem da Agência Estado, no primeiro semestre de 2020 o Bradesco foi a empresa de capital aberto com o maior lucro em toda a América Latina. Em entrevista, o vice-presidente do Bradesco destacou como fatores que levaram o banco ao topo a redução nominal de 3% nas despesas; aumento de 9,2% na margem das operações de tesouraria e com clientes; o crescimento de 14,9% na carteira de crédito; e o aumento do número de correntistas em 2,1 milhões, para 31,3 milhões, em relação ao primeiro semestre de 2019.
“Os números do Bradesco, mesmo no atual contexto de pandemia e crise econômica, são ótimos. Este resultado é construído, diariamente, pelos trabalhadores do banco. Trabalhadores estes que, neste momento tão delicado do país e do mundo, podem ser demitidos. Não existe qualquer razão para tamanha desumanidade. Estamos falando de vidas, famílias, não de números“, ressalta Hilário Ruiz.
Fonte: SP Bancários