UNI Américas debate sobre influências da tecnologia no sistema financeiro

Facebook
Twitter
WhatsApp

Compartilhe em sua rede social

Aceleração de tecnologias no sistema financeiro trazem benefícios, mas também problemas para os trabalhadores e para a sociedade, que precisam ser discutidos no âmbito da regulação

Os assessores técnicos da Asociación de Bancarios del Uruguay (AEBU), Aníbal Peluff e Soledad Giudice, foram os responsáveis por contribuir com as reflexões sobre “A Tecnologia e o Trabalho no Sistema Financeiro”, tema da primeira mesa de debates do Fórum Internacional sobre a Digitalização Financeira, realizado pela UNI Américas Finanças, e que reúne trabalhadores do ramo financeiro de diversos países da América Latina no auditório da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), em São Paulo.

Peluff explicou que a economia digital é composta pelas infraestruturas de telecomunicações, pelas indústrias TIC (abreviação para Tecnologia da Informação e Comunicação, que incluiu produção de software, hardware e serviços no setor)) e pela rede de atividades econômicas e sociais facilitadas pela Internet, pela computação em nuvem e pelas redes móveis, sociais e de deteção remota. E, para ele, apesar de existirem novas características, as relações de produção não foram alteradas. “Os objetivos continuam sendo a maximização dos lucros, com aumento da capacidade de produção e redução da mão de obra”, disse.

Soledad Giudice reforçou que os bancos não estão preocupados com os trabalhadores ou questões sociais e se preocupam apenas com a rentabilidade. “É importante ressaltar que não existe neutralidade das empresas. A decisão de como utilizar a tecnologia é tomada tendo como preocupação a lucratividade. E, neste ponto, as organizações sindicais têm mais relevância”, disse a técnica da AEBU se referindo à luta em defesa dos trabalhadores e da melhoria das condições de trabalho.

Digitalização

Dados do último informe da Global Findex, divulgado em 2021, revelam que, de 2011 a 2021, passou de 51% para 76% o percentual da população mundial que possui contas bancárias. O levantamento mostra ainda que os pagamentos digitais, se converteram em um importante facilitador para a inclusão financeira, tendência que foi impulsionada pela pandemia de covid-19.

“As ferramentas tecnológicas têm sido fundamentais para o processo de digitalização do sistema financeiro, principalmente a inteligência artificial, que aliada à exploração dos chamados ‘big data’, permite a utilização de bases de dados de grande dimensão na estratégia comercial, que antes eram realizados, principalmente pelo atendimento nas agências”, disse Aníbal Peluff.

Falta de regulamentação

O processo acelerado da digitalização do sistema financeiro traz benefícios, mas também problemas para os trabalhadores e para a sociedade como um todo. Na abertura do fórum, a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, destacou a tempestividade do debate, justamente no momento que as tecnologias impactam a sociedade e as relações de trabalho. “Não podemos negar os benefícios que a tecnologia traz para as pessoas. Aqui no Brasil, por exemplo, o PIX (sistema eletrônico utilizado para pagamentos e transferência de recursos) já é uma realidade na sociedade. Todo mundo o utiliza. O sistema é aceito até por vendedores ambulantes”, disse. “Mas houve uma transferência de risco e de responsabilidades para as pessoas que ‘carregam o banco no celular’”, completou Juvandia ao ressaltar que os números mostram que houve uma redução do número de assaltos a bancos, mas um grande aumento dos sequestros relâmpagos e fraudes/golpes digitais. “E, para a categoria bancária, o maior problema é a redução dos postos de trabalho”, observou.

Para Juvandia, a falta de regulamentação dos bancos digitais também pode causar um grande problema para a sociedade como um todo. “Eles têm nome de banco, atuam como banco, mas não são regulamentados como banco. Isso nos traz um grande desafio, não apenas no que se refere à questão trabalhista, mas também pela possibilidade desta falta de regulamentação gerar uma grande crise financeira devido à falta de controle da operação destes bancos digitais, que em alguns casos já são maiores do que alguns dos grandes bancos tradicionais”, reforçou ao lembrar que, em 2008, a falta de regulamentação do sistema financeiro nos Estados Unidos gerou uma crise de proporção mundial.

Impactos ao meio ambiente

Peluff observou também que a economia digital causa sérios impactos ao meio ambiente. “Embora não seja tão óbvio, há um grande desperdício de recursos naturais, como a água e minerais como o lítio. E, como este consumo fica meio que invisível e intangível, é um grande problema pouco discutido”, disse.

Papel dos sindicatos

Os técnicos da AEBU propõem que sindicatos aprofundem o debate sobre os impactos da introdução acelerada da tecnologia na sociedade, introduzindo conceitos de justiça e ética na incorporação tecnológica.

Para eles, a negociação coletiva é fundamental para moldar a incorporação tecnológica, o uso de algoritmos, a definição de sistemas e metas de avaliação de desempenho, assim como a abordagem dos impactos diretos nas condições de trabalho e programas de saúde.

Por fim, recomendam que as formas de organização sindical sejam repensadas, com uso das novas tecnologias para o fortalecimento da comunicação com os trabalhadores, mas também em termos de estrutura, ampliando a pluralidade e adaptando o movimento às transformações do mercado de trabalho no setor.

Veja os slides da apresentação dos técnicos da AEBU.

Outras Notícias